Brilhava
Os dedos percorreram as rugas da face como se elas fossem suaves linhas de mel, não marcas de pretéritos difíceis mas prendas para um futuro guloso colher. Nos olhos lia-se uma ternura triste, que escorria e compunha os lábios num brilho intenso, ávidos dum espelho que não os via.
Saiu para a rua e procurou sinais nos rostos que se cruzavam, o espelho, o brilho, fez os quarteirões do silêncio e atravessou as ruas do nada com as mãos nos bolsos do sobretudo, alforge de dedos lambuzados de vazio. Crispados em punhos que se cerravam, arbítrio que não se lia nem adivinhava nas rugas que poderiam ter sido rios de mel e agora eram vales de solidão, tanta.
Dos que viram o salto ninguém falou das rugas ou do brilho, de mel ou de ternura. Nem de nada em especial pois até o sobretudo era banal. Também eles não viram sinais. Quando os bombeiros encontraram o corpo tinha as mãos nos bolsos, manequim de vida vergado, caído sem que um espelho o tivesse reflectido. Brilhava.
Saiu para a rua e procurou sinais nos rostos que se cruzavam, o espelho, o brilho, fez os quarteirões do silêncio e atravessou as ruas do nada com as mãos nos bolsos do sobretudo, alforge de dedos lambuzados de vazio. Crispados em punhos que se cerravam, arbítrio que não se lia nem adivinhava nas rugas que poderiam ter sido rios de mel e agora eram vales de solidão, tanta.
Dos que viram o salto ninguém falou das rugas ou do brilho, de mel ou de ternura. Nem de nada em especial pois até o sobretudo era banal. Também eles não viram sinais. Quando os bombeiros encontraram o corpo tinha as mãos nos bolsos, manequim de vida vergado, caído sem que um espelho o tivesse reflectido. Brilhava.
1 Comments:
Que bela peça literária.
Mas que temática tão...
Aqui faltam-me as palavras. Este tema faz doer. Doer solidão e desencanto. Sabor só de amargura.
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