Xicuembo (versão 3.0)

memórias & resmungos do Carlos Gil

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segunda-feira, junho 06, 2005

Diário dum Predador, digo, Pecador

O prometido é devido. Ontem à noite num dos sites luso-moçambicanos brinquei assim:
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Primeiro capítulo:
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Hoje acordei com a certeza que este é que era o dia, a boazona do 3º dtº vai deixar-se de fosquices no elevador e, finalmente, deixar-me entrar no seu Templo. Assim, após o longo banho de imersão em que repousei pele e músculos para lauta refrega, aparei bem as unhas dos pés para não haver incómodas lesões e rastos de mangussagem. Ao borrifar-me com 'Old Spice' e ao por pó-de-talco nas partes não deixei de sorrir e pensar que quem porfia sempre alcança, e se um rapaz não fizer pela vida não recolhe pérolas como aquelas que, sentia-o intimamente como certo, hoje cairiam ronronantes nos meus bronzeados e másculos braços. Enfim, a manhã prometia e foi com cara alegre que escolhi uma camisa de seda em tons azul-pastel que ia bem com a minha cor trigueira e com as novas jeans que comprei na boutique chinesa do bairro, onde há uns olhos amendoados que sorriem quando me vêem e, já reparara, olhavam-me disfarçada mas avaliadoramente quando me afasto. Oh, como é bom viver e ser por graça e vocação Mangusso!

Foi com tais felizes pensamentos e clara definição de prioridades e estratégias que desci à rua para o café e jornal da manhã, na pastelaria do sr. Inocêncio que tinha admitido recentemente uma empregada nova, ucraniana e lindíssima, a Ludmila. O travo amargo do primeiro café tem outro sabor quando os meus olhos se recreiam nessa paisagem, nos altaneiros montes que se adivinham sob as blusas apertadas que ela costuma usar. Dei por mim a sorrir de novo e a pensar que tinha de organizar melhor a minha vida social; não só comprar um 'organizer' e organizar-me, como ir à farmácia da Dr.ª Etelvina, a cinquentona que estava divorciada e ficava muito afoguedada quando me via passar e piscar-lhe o olho, para comprar um suplemento vitamínico face ao caderno de encargos em mãos. E mais uma grosa de borrachinhas, claro.

Ora bem, estou nestes encantadores pensamentos e quase que nem reparo na Jojó que vem no passeio de lá e, tendo-me visto, disfarça mal o percurso e atravessa a rua fazendo um taxista buzinar, e assobiar-lhe ao rabo depois. Esta Jojó... quando é que ela perceberá o conceito de 'one night stand' e deixa de me perseguir com aqueles olhos de carneiro mal morto, ansiosos por uma piscadela ou um convite para cear? bem, isto de ser o gajo mais 'bom' do bairro também tem ónus, e há os serviços mínimos a prestar á comunidade, vou anotar a Jojó para quarta ao fim da tarde, ela vai ficar radiante. Espero é que vá à depilação antes e comente à Micas que vai encontrar-se comigo. Ele, Micas, é muito criativa e para além das luas e estrelas que costuma desenhar a tesoura e lâmina, talvez por saudades duns tempos em fomos amigos muito mais íntimos que hoje, e como 'prenda' muito pessoal, às vezes obsequeia as nervosas clientes com criações artísticas de primeira água, murais de bom e ousado gosto nas virilhas. Quanto a Antonieta lá foi e chibou-se que andava a mandar-me olho gordo, ela, em bónus que muito apreciei, desenhou-lhe na zona púbica um vrum-vrum, e também por essa via foi uma tarde inteira de prego a fundo, olá se foi. Quem tem amigas assim está sempre safo, sorri para mim, e a Ludmila acorreu logo pensando, ingénuazinha querida, que era para ela. Bem, segui à minha vida pois, recordo a decisão, há uma agenda a respeitar.

Mais tarde, já passava das quatro da tarde, estava eu à coca na janela que a boazona do 3º Dtº aparecesse, eis senão quando toca a campainha e

(glup! e agora? quem será?)


Tony Yé-Yé, um parente do Frei, esse linotipista de emoções mui humanas
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Segundo capítulo:
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Daqui fala a Dª Floripes, do 2º Frente.

Isto é um escândalo, é pena nem haver um governo com jeitos que ponha este país na linha e, cá no prédio, um Administrador de Condomínio com eles no sítio e que acabe com este forrobodó do doido do 1º esqº. É que já nem durmo, nem a sesta nem a noite toda, com os barulhos que ouço - parece uma estrebaria com cavalos a relinchar. E logo a mim, que estou aposentada por problemas do psíquico, os nervos!
Nas escadas é vê-los aos risinhos, e já nem sei se elas não são piores que ele. No meu tempo, rapariga que fosse a casa de rapaz que mora sozinho, no dia seguinte trazia as malas pois o pai punha-a na rua. Hoje, agora, duma vez até eram duas que se cruzaram comigo lá à entrada do elevador, por sinal à loira até lhe conheço a cara de quando lavei as escadas do prédio onde mora o Sr. Dr. Fontoura, e as risadas que de lá ouvi não eram nada naturais, que coisa... Umas malucas, e ele é um desavergonhado que traz o bairro todo em reboliço: o rapaz é insaciável.
Uma vez contei ao colo do Font..., bem, uma vez contei ao Sr. Dr. o que se passava e ele deu-me toda a razão: já não há respeito, parecem animais e, muito provavelmente, na higiene deixam muito a desejar. Ele até me contou que, no tempo dele que também é o meu embora seja um bocado mais nova, um rapaz não se lavava só para ir às sortes ou ao médico, educadamente fazia-o antes de bailes, chás, gloriosos e inesquecíveis etecéteras. O bicho que vive aqui ao lado, esse que parece um daqueles lá das Africas, ouvi dizer no canal dos bichos que se chamam mangussos, o menino meu vizinho chega a 'atender' de manhã a que sobrou da noite anterior, toma banho e levanta-se mas daí a pouco já está deitado, agora com outra, antes de jantar faz uns telefonemas e à noite é outra, mas, que eu ouça, para além dos grunhidos e dos gritos animais que de lá soam, já só ouço água à correr quando está a preparar o esparguete. Ainda morava cá no prédio à pouco tempo e, uma vez, eu, tentando ser simpática e boa vizinha, bati-lhe à porta a oferecer serviços, simpatias, sei lá... Pois ele abriu-a com as baixas enroladas num lençol de cama, as altas à vista e, vi e reparei bem, com chupões, arranhadelas e até marcas de dentes no peito. Mesmo assim e nesta lástima, sorriu-me demais e nunca lá voltei, nem um bocadinho de sal, uma lata de salsichas ou uma folhinha de louro. Nada. O Sr. Dr. Fontoura é que, há dias atrás e reparando que eu trazia umas ligas novas, perguntou-me por ele, o bicho, e mostrou-se suspeitoso. E eu com esta doença de nervos, ai ai. Bem, contando o resto, como de manhã fui passear ao Colombo e fiz uma loucura, vou vestir aquela lingerie negra e até por um laçarote no cabelo, apertar no rouge e não me rogar ao batom. Bota alta e boquilha (esta nos chineses, a rapariga de lá parece que anda parva, aluada, ao olhar para as botas queria à viva força vender-me esporas e uma chibata, bem o raio do vizinho, hoje, já agora é só bater-lhe à porta, vai saber o que é bom para a tosse é um remédio tradicional e não estas anfetaminas escanzeladas que por aí andam, e vou ensinar-lhe o que fazer para gritar. Gritar a sério, nem nunca o Fon..., bem, dou-lhe uma esfrega que, nunca saiba o Sr. Dr. da Caixa! vai fazer-me melhor que uma caixa de Valiuns e meia de Prozacs, ai que eu vou-me a ele e...
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Terceiro capítulo:
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(14 horas depois)


Agente Esteves: - Parece homicídio. E violento!... Ó chefe, olhe para estas marcas aqui, nas partes... e ali, nas orelhas... coitado, deve ter sofrido tanto.... E olhava para o rotundo chefe, o inspector Gonçalo que, curvado, com a ponta da esferográfica tentava analisar o bocado de lingerie feminina que saía da boca do rapaz que tinha aparecido morto, e morrera com cara de parvo, todo mordido e cheio de nódoas negras, mas a boca aberta no que era um inegável sorriso de prazer no Adeus.

o Inspt. Gonçalo levantou-se e, virando-se para a porta para o Honorato que de lá tudo observava sem que o Esteves dele houvesse tido nota, e disse-lhe: - Tu sabias. Por causa dessa merda da tua zanga com a Dª Fidelina, não largas os fundilhos quando te cheira a desabrego sexual. Parece que os adivinhas. Mas o problema nem é por ti, que até és mais ou menos decente fora aquela parte que está lá no tal relatório que eu arquivei, bem, tu sabes. É por eles, olha o primeiro aí a chegar. Vai uma aposta?

E todos olharam para o elevador que nesse momento abria a porta, e donde saiu, exausto, o hábito coberto duma camada de suor manchando-o e tornando o ar mais dramático, aparece o Frei de olhos vidrados que passa pela cena do crime sem lhes ligar, e murmurando preces em voz alta, tremendo, toca a campainha da porta ao lado - mora lá uma velha de rolos na cabeça e que lava escadas, já tinha contado o Esteves, pressuroso. Todos ouvem-no invectivar em latim demónios, os punhos cerrados fustigando-se a si mesmo em fortes punhadas no peito, estamos todos de boca aberta a olhar para isto quando

vê-se uma mão entre rendas que o segura pelo peito da batina e puxa-o, ele vai penetrando no dossel, digo, por enquanto na sala, e nesse deslizar lento para s chamas vê-se a cara dele, de alucinado, de possesso, alma em sofrimento e deleite conjuntos, luta que umas rendas e mais algo, certamente doce, ajudam a decidir. Entretanto ouve-se um tropel nas escadas e chegam os outros todos, e o Inspct Gonçalo disse para o Esteves: - Isola a área e fiquem a guardar o corpo. Eu vou ali ao lado, pois não perco o espectáculo por nada deste mundo! E desapareceu.

John Russell Brown, Oxford Fellow
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Quarto capítulo:
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Querido Diário:

Vou ter com o Fontoura. Hoje sinto-me insaciável, e é o dia perfeito para lhe lavar bem os cantos. Até amanhã e beijitos...


Flô....
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Quinto capítulo:
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- Não há dúvida como este é o caso mais complicado que tive em mãos! Um sérial quiler! - Disse o Gonçalo, que já perdera a gravata desde que fora retirado, em custosos braços, do apartamento da desaparecido vizinha, ele muito lívido e mostrando-se depois amnésico sobre o que passara. - Desmaiei, não me lembro de nada!, os olhos com cara de maus amigos, sem permitir mais perguntas e abotoando a roupa toda desalinhada, sentado no corredor e quase tão morto como o outro, o do 1º Dtº.

depois veio a chamada pela rádio, da Central, ali a quarteirão e meio aparecera morta um tipo qualquer da alta, doutor, parece que tinha sido das políticas. No local depararam com um presunto no mesmo mau estado do outro, mordido e arranhado e com o sexo em carne viva e, ainda, a deitar uma ligeira coluna de fumo, tudo contribuía para a cara do Gonçalo e do Honorato, o Esteves ficara a guardar o Mangusso chupado até aos ossos que ficara na outra casa.

Entretanto, e porque tinha-lhe acabado a margarina, a Dª Edite disse ao marido que ia à loja ao lado e, quando passava por um vidrão, de lá saiu uma mão gigante e em plástico, como se fosse um cartoon, que a agarrou e levou-a lá para dentro, mais tarde numa greve que houve na Marinha Grande houve uns trabalhadores que decidiram improvisar ardores em inesperado dia de folga e, num canto do armazém, ao ajeitarem jeitos de forma mais confortável, duma pilha de paletes com garrafas novas que vieram na outra semana da fundição, ou lá como se chama aquela coisa em fogo onde fazem as garrafas, blá blá, e dizia se ainda me lembro (está a dar no Herman SIC uma gaja a mostrar as mamas. como é que um gajo pode pensar assim, escrever sem os dedos fugirem para texturas, volumes, sedas, excitações que tornam o belo e sedutor como irresistível e, em carícia prolongada, a mão percorre o contorno e vai subindo, sentindo o seu macio sorrindo, até que tocam a erecção dos mamilos, e eu ou desligo a tv e conto uma receita de culinária para fechar o policial, ou paro de escrever e aprendo espanhol!...
Vou pensar no assunto, até já.

Web
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Esclareço que fui dormir....

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

FELIZ em voltar a ver-te! - muf'

terça-feira, junho 07, 2005 2:44:00 da tarde  

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