Adieu Mário Soares
A ser eleito Mário Soares para a Presidência esta nasce fragilizada, com o mandato esvaziado de muita da sua razão de ser: fé e confiança pública individual. Os olhares de desconfiança são plurais.
À esquerda e à direita e em floridas razões (afinal o saudável polémico duma vida que não foi indiferente à História e ao que a rodeava), há olhares de receio excessivos, seja por dúvidas acerca da sua competência política activa para tempos que, suspeita-se colectivamente, não irão resultar em memórias particularmente felizes se tudo continuar a correr assim tão mal como estes últimos anos, seja por profundas divergências ideológicas ainda filhas daquele tempo que João Abel Manta tão bem caricaturou: Portugal no divã psiquiátrico, intrigante case study mundial. Há patologistas de sofá que persistem em atribuir a germes soaristas o estar hoje em maca e entubado.
Todos os políticos vivem curvas de ascensão de carreira, mais as outras, e neste momento Manuel Alegre só pode mesmo é escalar a onda de entusiasmo da sua candidatura, que promete transformar-se em acontecimento e lição política para serem futuramente recordados. Esta explosão de fé à revelia de seduções partidárias, anuncia escrever-se na História política do Portugal post-25 de Abril como muito mais que o acontecimento que o gerou. Há um surdo ‘chega, cuidado!’ neste anunciado voto independente em massa, coerente até nesse alvo indirecto.
A candidatura de Soares hesita em aceitar uma descida brusca ou uma mais suave à sua popularidade, e hesita porque nela se discutirão com afã cenários que contemplem uma humilhante derrota expressiva. O silêncio de ideias e de estratégias é sintomático, e só pode indiciar que estão ocupados a pensar e discutir alternativas, cenários enormes em possibilidade prática para poderem ser olhados levianamente.
Do outro lado, que tem candidato próprio e tão forte que até soa estar a sua unanimidade a impedir alguém de se oferecer para sua samarra e proteger-lhe os flancos, há ainda os muitos tantos que têm visíveis ataques de neura quando lhe ouvem o insigne nome.
Ou seja: por aqui ou por ali – e a ganhar, note-se!..., coisa que não há ninguém que meta muita fé na sua aposta, há sectores muito alargados que aceitam a contra-gosto Mário Soares como futuro Presidente da República, claramente de pé-atrás, e ao menor zum-zum escandaloso ou erro de avaliação política que aconteça estão psicologicamente formatados para elevar o bradar, reclamar por fogueiras políticas em prime-time público. A instabilidade e o descrédito instalados onde deveríamos ver segurança e prestígio. O mais desagradável ainda é pensar que, com boas falas e jeitinho, é bem possível aparecerem um dia destes inteligentes ideias a defender a pluridisciplinaridade das arenas e inerente regresso dos leões.
A retirada? nobre, terá sempre de assim ser; pelo seu currículo anti-ditatorial, antes e depois do 25A, pelo exercício de tantas e tão altas funções públicas, Mário Soares merece e exige um final de carreira política digno, cabendo à sua sagacidade política encontrar forma de minorar os estragos pessoais e partidários deste fazer em cima do joelho que é a sua atabalhoada candidatura presidencial’06.
O Partido Socialista não pode olhar esta fuga gigantesca do seu eleitorado tradicional como se não fosse nada com ele, muitos até com compromissos por filiação militante. A explosão de recusas à sua decisão política tem de ser lida, e é-o certamente, como influída em muito pela última das mágoas políticas de que foi padrinho, pai ou autor. O voto maioritário nacional, de Fevereiro deste ano, não será reeditado nas presidenciais se o canibalismo prosseguir. E o autismo. E os impúdicos esforços em sufocar a liberdade de voto.
Há candidatos que só o são para cumprir agenda política, Jerónimo e Louça. Mas há-os genuínos; os que se inscrevem à partida sonhando com um final que vá além duma vitória no bairro: Cavaco, Alegre e Soares concorrem para ganhar o 1º lugar. Mário Soares equipou-se para esses louros sem olhar atentamente em volta e, também, para si mesmo. Arrisca a maior humilhação da sua vida política, e recordemo-nos que ele tem azia às derrotas: foi preterido em Estrasburgo para Presidente do Parlamento Europeu e mostrou-se boçal no dichote despeitado que dirigiu à vencedora. Não acredito que alguns anos a mais lhe tenham injectado espírito olímpico suficiente para (já) saber lidar com elegância com a derrota pessoal. A continuar-se este erro político até à contagem de votos nas urnas, a sua candidatura a Belém só acarreará vencidos prontos a iniciarem guerras fratricidas. E potenciará a eleição do candidato Cavaco Silva.
A bem dum ideal de sociedade, dum projecto social que sirva de amparo quando a chuva cair em bátegas que nos encharcarão roupas e ossos até ao tutano, Mário Soares tem de renunciar à sua candidatura. Também por si, pelo respeito que ele, um dos patriarcas da nossa democracia, deve continuar a merecer-nos. Chamam-lhe ‘animal político’ e tem agora uma última oportunidade de demonstrar que a idade não lhe descuidou instintos nem nublou capacidades analíticas.
E nem precisa de fazê-lo com expressa indicação de voto. Os ainda seus vacilantes apoiantes sabem bem ler-se e, finalmente livres, também eles sorrirem, pública e Alegremente acreditarem que é possível eleger um novo Presidente, moldado na nossa comum exigência de mais cidadania e menos tecnocracia.
À esquerda e à direita e em floridas razões (afinal o saudável polémico duma vida que não foi indiferente à História e ao que a rodeava), há olhares de receio excessivos, seja por dúvidas acerca da sua competência política activa para tempos que, suspeita-se colectivamente, não irão resultar em memórias particularmente felizes se tudo continuar a correr assim tão mal como estes últimos anos, seja por profundas divergências ideológicas ainda filhas daquele tempo que João Abel Manta tão bem caricaturou: Portugal no divã psiquiátrico, intrigante case study mundial. Há patologistas de sofá que persistem em atribuir a germes soaristas o estar hoje em maca e entubado.
Todos os políticos vivem curvas de ascensão de carreira, mais as outras, e neste momento Manuel Alegre só pode mesmo é escalar a onda de entusiasmo da sua candidatura, que promete transformar-se em acontecimento e lição política para serem futuramente recordados. Esta explosão de fé à revelia de seduções partidárias, anuncia escrever-se na História política do Portugal post-25 de Abril como muito mais que o acontecimento que o gerou. Há um surdo ‘chega, cuidado!’ neste anunciado voto independente em massa, coerente até nesse alvo indirecto.
A candidatura de Soares hesita em aceitar uma descida brusca ou uma mais suave à sua popularidade, e hesita porque nela se discutirão com afã cenários que contemplem uma humilhante derrota expressiva. O silêncio de ideias e de estratégias é sintomático, e só pode indiciar que estão ocupados a pensar e discutir alternativas, cenários enormes em possibilidade prática para poderem ser olhados levianamente.
Do outro lado, que tem candidato próprio e tão forte que até soa estar a sua unanimidade a impedir alguém de se oferecer para sua samarra e proteger-lhe os flancos, há ainda os muitos tantos que têm visíveis ataques de neura quando lhe ouvem o insigne nome.
Ou seja: por aqui ou por ali – e a ganhar, note-se!..., coisa que não há ninguém que meta muita fé na sua aposta, há sectores muito alargados que aceitam a contra-gosto Mário Soares como futuro Presidente da República, claramente de pé-atrás, e ao menor zum-zum escandaloso ou erro de avaliação política que aconteça estão psicologicamente formatados para elevar o bradar, reclamar por fogueiras políticas em prime-time público. A instabilidade e o descrédito instalados onde deveríamos ver segurança e prestígio. O mais desagradável ainda é pensar que, com boas falas e jeitinho, é bem possível aparecerem um dia destes inteligentes ideias a defender a pluridisciplinaridade das arenas e inerente regresso dos leões.
A retirada? nobre, terá sempre de assim ser; pelo seu currículo anti-ditatorial, antes e depois do 25A, pelo exercício de tantas e tão altas funções públicas, Mário Soares merece e exige um final de carreira política digno, cabendo à sua sagacidade política encontrar forma de minorar os estragos pessoais e partidários deste fazer em cima do joelho que é a sua atabalhoada candidatura presidencial’06.
O Partido Socialista não pode olhar esta fuga gigantesca do seu eleitorado tradicional como se não fosse nada com ele, muitos até com compromissos por filiação militante. A explosão de recusas à sua decisão política tem de ser lida, e é-o certamente, como influída em muito pela última das mágoas políticas de que foi padrinho, pai ou autor. O voto maioritário nacional, de Fevereiro deste ano, não será reeditado nas presidenciais se o canibalismo prosseguir. E o autismo. E os impúdicos esforços em sufocar a liberdade de voto.
Há candidatos que só o são para cumprir agenda política, Jerónimo e Louça. Mas há-os genuínos; os que se inscrevem à partida sonhando com um final que vá além duma vitória no bairro: Cavaco, Alegre e Soares concorrem para ganhar o 1º lugar. Mário Soares equipou-se para esses louros sem olhar atentamente em volta e, também, para si mesmo. Arrisca a maior humilhação da sua vida política, e recordemo-nos que ele tem azia às derrotas: foi preterido em Estrasburgo para Presidente do Parlamento Europeu e mostrou-se boçal no dichote despeitado que dirigiu à vencedora. Não acredito que alguns anos a mais lhe tenham injectado espírito olímpico suficiente para (já) saber lidar com elegância com a derrota pessoal. A continuar-se este erro político até à contagem de votos nas urnas, a sua candidatura a Belém só acarreará vencidos prontos a iniciarem guerras fratricidas. E potenciará a eleição do candidato Cavaco Silva.
A bem dum ideal de sociedade, dum projecto social que sirva de amparo quando a chuva cair em bátegas que nos encharcarão roupas e ossos até ao tutano, Mário Soares tem de renunciar à sua candidatura. Também por si, pelo respeito que ele, um dos patriarcas da nossa democracia, deve continuar a merecer-nos. Chamam-lhe ‘animal político’ e tem agora uma última oportunidade de demonstrar que a idade não lhe descuidou instintos nem nublou capacidades analíticas.
E nem precisa de fazê-lo com expressa indicação de voto. Os ainda seus vacilantes apoiantes sabem bem ler-se e, finalmente livres, também eles sorrirem, pública e Alegremente acreditarem que é possível eleger um novo Presidente, moldado na nossa comum exigência de mais cidadania e menos tecnocracia.
1 Comments:
"...é possível eleger um novo Presidente, moldado na nossa comum exigência de mais cidadania e menos tecnocracia." Assino por baixo. O PS ainda não percebeu que se meteu numa grande embrulhada. É próprio dos autistas não entender a realidade. Minimizam-se os indicadores das sondagens. Já não concordo é que Soares abandone a cena pois desejo mesmo assistir à humilhação do partido. Soares, que por protagonismo ou por se julgar o salvador, se meteu nelas, que aguente a sua derrota...
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