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memórias & resmungos do Carlos Gil

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quarta-feira, janeiro 11, 2006

Vamos falar claro

Todos podemos errar na vida. Mais ainda, há algo de muito humano no errar e, a quem o reconheça e não insista no erro, creio que todos estão dispostos a perdoar. Pior é quando se persiste, persiste, e os prejuízos da teimosia caiem sobre os ombros de todos. Aí, nem os Homens têm razões para lhes perdoar nem a História conjuga esse verbo quando os cita.

Mas primeiro vamos às contas, a seguir falar-se-á nos erros e sua remissão.

Com a impopularidade de que têm gozado as medidas governamentais o Partido Socialista valerá hoje uns trinta, em máximo trinta e cinco por cento de votos fiéis. Destes, metade votará ‘partido’, votará em Mário Soares nas eleições presidenciais de 22 de Janeiro. Portanto MS tem garantidos uns 15% e terá de conquistar mais algum resto que precise e a que se ache com direito. O resto vai maioritariamente para Manuel Alegre, com faixa residual que ainda hesita entre um dos dois e a abstenção. Aqui, na área matriz das suas candidaturas, Mário Soares e Manuel Alegre estão empatados, as mesmas premissas, as mesmas carências e dificuldades, as dum partido que está inegavelmente fraccionado e sem saber para que médico se virar.

Dos cinquenta e pouco por cento da maioria PS de há um ano atrás, os vinte ora fugitivos têm de se dividir em três partes que, por simplicidade e para comodidade de contas serão iguais: um terço está tão zangado com o Governo socrático que tudo o que lhe cheire ‘a socialista’ leva a sonoros espirros alérgicos, e votará numa primeira volta Cavaco ou Jerónimo, Louça ou abstenção; outro terço vota decididamente Cavaco Silva seja em primeira ou em segundas núpcias pois o voto de Fevereiro ’05 foi de protesto pontual à dupla saltimbanca Durão-Santana, regressando assim a casa; e, finalmente, o restante terço está hesitante sem saber bem que fazer, com a forte tentação de canalizar o seu desencanto e protesto num voto ‘alegre’, voto anti, voto puro de protesto. São estes sete a nove por cento que há a conquistar e que decidirão duas coisas fundamentais: se os votos ‘esquerda’ serão suficientes para impedir a direita de ganhar à primeira volta e, cumprido esse primeiro objectivo (ia escrever batalha, soa a dramático mas não é exagerado, não...) se o candidato que emergir deste combate conseguirá, um mês depois, levar Cavaco Silva à reforma antecipada e cerca de metade do país em corrida pró anti-depressivos às farmácias de serviço.

Para não perder o fio à meada, recapitulo: Soares tem 15% e sonha com mais 7 a 9%, e fecha contas; Manuel Alegre partiu com um pouco menos daqueles quinze mas tem ainda um mínimo de mais 10% a seus pés: saiba gerir a sua campanha e tê-los-á. Entre os zangados com o Sócrates e aqueles que lhes faz comichão votar Cavaco Silva ou Mário Soares (razões distintas, mas de peso avultado em cada um dos casos), Manuel Alegre só tem de os conquistar, pois deles não lhe vem declarada hostilidade ou visceral aversão política. E ainda pesca com relativo à vontade nas águas dos camaradas Jerónimo e Louça.
Quinze mais sete ou nove dá vinte e dois ou vinte e quatro, e Soares fecha a sua conta mais optimista (creio que, neste momento, a tal até já chamará de sonho completamente irrealista...).
Alegre tem outra conta, treze garantidos mais sete a quinze por cento que dependem da sua performance, total de vinte a vinte e oito por cento e fecha também a sua.

Portanto, quer Mário Soares quer Manuel Alegre podem vencer as primárias da esquerda. E no outro lado, como vamos?

Como o candidato é único as contas são mais rápidas. Cavaco tem os mínimos habituais de trinta por cento do PSD, mais uns actuais três dos náufragos do Portas, mais os tais sete a nove por centos dos flutuantes (ora fugitivos ao voto para o Parlamento de Fevereiro passado, a tal malta que dá e tira as ‘maiorias’), mais uns cinco que pesca em áreas que não são dos partidos que o apoiam. Trinta e três mais sete a nove dá quarenta, quarenta e dois, mais os tais cinco dá 45 a 47%. Se quer mais tem de os conquistar porque não os tem. É optimista ele pensar que resolve tudo numa primeira e única volta eleitoral, e ele sabe-o. Olá se sabe, não é ele o Homem da Regisconta?

Portanto estamos em Fevereiro, só que agora de 2006 e com a segunda volta das eleições presidenciais nas mãos.

Passa Soares: cheio de adesivos e mercurocromo mas passa. Pelo caminho ficaram Alegre, Jerónimo e Louça. Precisa dos votos deles todos para vencer. Dos votos de “ps’s ressabiados” de Alegre recolhe quase todos mas não faz o pleno: são irmãos, desavindos mas irmãos, mas perderá, porém, muitos dos votos independentes que não se revêem quer em si quer no seu partido-base. Agora os votos pc’s e bloco: quanto aos primeiros, ’06 não é 85, pelo meio houve um muro que derrocou, os dissidentes, a ruína da obediência partidária cega, o tanto tudo que hoje sabemos: não faz o pleno no eleitorado comunista, leva um máximo de cinco por cento. No Bloco de Esquerda o efeito Joana Dias poderá contar e, também por isso, olhar com mais tranquilidade para uns 5% adicionais.
Tudo somado dá contas de arrepiar. Soares dependerá, para os tais “cinquenta e mais um”, quer dos flutuantes que lhe recusaram o voto na 1ª volta, quer dos tantos que procuraram outro candidato por não se reverem nele. As razões para o refúgio no encolher de ombros da abstenção crescem e agigantam-se.

No cenário alternativo passa Alegre. À partida tem o forte élan do feito já conseguido, um sentimento de vitória instala-se, uma auréola de ganhador. Tendo-o conseguido, alia todos os votos partidários PS e é com muito menos dificuldades que aquelas que sentiria Soares que receberá os votos à sua esquerda. Fale-se com um comunista ortodoxo sobre em quem votaria com menos hesitação numa segunda volta (numa escolha Soares/Alegre) e ouça-se a resposta. O Bloco votará alegremente, claro, ele existe para animar as festas.

Portanto chegou a altura de falar claro, dr. Mário Soares. E sabe uma coisa? é V. Exª que tem de o fazer, nós já falamos. Todos. Principalmente nos silêncios. Veja, olhe, a dinâmica ausente da sua campanha, ouça a chacota que os seus adversários já nem escondem, leia outra vez os sinais. E fale. Diga o que sabe que tem de nos dizer. É e sente-se ‘animal político’, então aja assim, sem mais masoquismos, seus, que por teimosia está a impor a “cinquenta e mais um” por cento. Nós seremos (mais uma vez, uma última vez...) pacientes a ouvi-lo.

Não lhe digo mais nada, fecho a sua contabilidade repetindo o primeiro parágrafo: “Todos podemos errar na vida. Mais ainda, há algo de muito humano no errar e, a quem o reconheça e não insista no erro, creio que todos estão dispostos a perdoar. Pior é quando se persiste, persiste, e os prejuízos da teimosia caiem sobre os ombros de todos. Aí, nem os Homens têm razões para lhes perdoar nem a História conjuga esse verbo quando os cita”

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"O Bloco votará alegremente, claro, ele existe para animar as festas."
Olhe que não... olhe que não...
Esse pedantismo pode-lhe sair caro. E esse discurso cheira-me a "raramente tenho dúvidas e nunca me engano"

quarta-feira, janeiro 11, 2006 9:58:00 da tarde  
Blogger Carlos Gil said...

Caro comentador, em primeiro lugar seja bem-vindo ao meu tasco. Depois vá ler o post seguinte.
E seja feliz.

quinta-feira, janeiro 12, 2006 7:51:00 da tarde  

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