A boa memória
Cavaco não é supra partidário. É hiper. Para além dos inefáveis compagnons de route remetidos estrategicamente para debaixo dos sovacos há um silent partner que preocupa mais que os outros dois juntos. A vetusta e sinistra Aliança Nacional está presente, encapotadamente presente.
Pessoas de boa memória, que se recordam de qual foi o governo que aprovou as pensões vitalícias aos ex-Pides como se de meros e dedicados funcionários públicos se tratasse. Aquele olhar gélido, intolerante e insensível na sua lógica aritmética quando olha o global nacional, suavizou-se ao olhar aqueles coitadinhos, aquelas vítimas de injustiça social revolucionária. E eles são gratos e têm boa memória. Eles e os seus apaniguados, esse silent partner, preparam-se para se levantar cedinho no dia tal e votar em massa. A velhinha Aliança Nacional, dissolvida formalmente há trinta anos atrás mas ainda viva nas mentalidades saudosistas dos tempos do chicote, ideológico mas também literal. Os seus resquícios, que não andam todos de cadeira de rodas ou embengalados como se suporia. Aos seus indefectíveis confessos por antiga profissão de fé juntam-se os muitos omissos no baptismo de jure mas dela puros militantes por pensamento, de facto pela sua praxis em democracia. Esses não têm a menor dúvida de onde farão a cruz, qual é a sua escolha. Não se vão abster, vão votar porque desta vez o exercício democrático sensibiliza-os. Também porque têm boa memória.
Se concordo quando oiço – disse-o há meses atrás, tentando desdramatizar o que me parecia inevitável antes da esquerda ter um candidato credível e ganhador – que a democracia não está em perigo com a potencial eleição de Cavaco Silva para presidente da república (cruzes, canhoto!), hoje há este pormenor que trás uma nova ruga de preocupação. Não se trata do clássico esquerda-direita, do hoje ganhas tu e amanhã ganho eu, a alternância democrática a funcionar para satisfazer os gregos e agradar aos troianos. É mais profundo. Um candidato à eleição para um lugar público de relevo é mais que as palavras de circunstância que debita no momento eleitoral. É o seu passado, a sua vida pública e as suas acções que respondem por si e são o seu cartão de visita. As convicções de voto nascem aí e não no encenado e enfadonho espectáculo dos debates televisivos ou nos comícios de laivo circense. As palavras leva-as o vento; sabemo-lo e disso passamos o tempo a queixarmo-nos. Sobram as atitudes tomadas quando delas houve vez e necessidade para avaliarem-se caracteres pessoais e posturas políticas. E hoje não haverá saudosista do fascismo que não esteja a afiar o lápis. Também porque têm boa memória.
A onda de euforia que percorre a extrema-direita nacional não é a mera gratidão por ambicionados momentos de galhofa no café do bairro, tal como quando o nosso clube ganha um duelo com um arqui-rival. A profundeza emocional que a levará a fazer fila em Janeiro para votar CS é o miolo dos seus sorrisinhos de prazer antecipado. As velinhas acesas e o incensamento sebastianista. O espírito do vinte-e-quatro abrilista, ora em versão democraticamente eleita. Eu e tantos que afinal somos a razão da diferença, se tal lapa se nos colasse na lapela do casaco rapidamente a escovávamos como se de inestética e embaraçante caspa se tratasse. Cavaco Silva estende o seu silêncio também sobre esta mancha. Como se não houvesse apoios incómodos, se não houvesse votos que são ónus e não bónus. Silêncio que acuso de cúmplice pois há apoios que nunca se aceitam. Não se argumente que os grupelhos organizados ainda nada disseram oficialmente. Não é a mesma coisa que os burlescos esverdeados virem apoiar o camarada Jerónimo. Aqueles, os proto-fascistas, os de boa memória para quem fez bem aos seus, não elaboram previsíveis comunicados cúmplices que, a não acontecerem, fariam explodir de apoplexia senil os verdes balões de ar que adornam a visão pluralista do nosso mundo, versão janelas da rua Soeiro Pereira Gomes. Eles são mais discretos, mas estão presentes. Porque têm boa memória.
É preciso avivar a nossa, tal-qualmente. Recordar que o governo que atribuiu as pensões aos ex-pides foi o mesmo que a negou à viúva de Salgueiro Maia. Que os governos têm rosto e as mãos das assinaturas também o tiveram. Aníbal Cavaco e Silva.
Pessoas de boa memória, que se recordam de qual foi o governo que aprovou as pensões vitalícias aos ex-Pides como se de meros e dedicados funcionários públicos se tratasse. Aquele olhar gélido, intolerante e insensível na sua lógica aritmética quando olha o global nacional, suavizou-se ao olhar aqueles coitadinhos, aquelas vítimas de injustiça social revolucionária. E eles são gratos e têm boa memória. Eles e os seus apaniguados, esse silent partner, preparam-se para se levantar cedinho no dia tal e votar em massa. A velhinha Aliança Nacional, dissolvida formalmente há trinta anos atrás mas ainda viva nas mentalidades saudosistas dos tempos do chicote, ideológico mas também literal. Os seus resquícios, que não andam todos de cadeira de rodas ou embengalados como se suporia. Aos seus indefectíveis confessos por antiga profissão de fé juntam-se os muitos omissos no baptismo de jure mas dela puros militantes por pensamento, de facto pela sua praxis em democracia. Esses não têm a menor dúvida de onde farão a cruz, qual é a sua escolha. Não se vão abster, vão votar porque desta vez o exercício democrático sensibiliza-os. Também porque têm boa memória.
Se concordo quando oiço – disse-o há meses atrás, tentando desdramatizar o que me parecia inevitável antes da esquerda ter um candidato credível e ganhador – que a democracia não está em perigo com a potencial eleição de Cavaco Silva para presidente da república (cruzes, canhoto!), hoje há este pormenor que trás uma nova ruga de preocupação. Não se trata do clássico esquerda-direita, do hoje ganhas tu e amanhã ganho eu, a alternância democrática a funcionar para satisfazer os gregos e agradar aos troianos. É mais profundo. Um candidato à eleição para um lugar público de relevo é mais que as palavras de circunstância que debita no momento eleitoral. É o seu passado, a sua vida pública e as suas acções que respondem por si e são o seu cartão de visita. As convicções de voto nascem aí e não no encenado e enfadonho espectáculo dos debates televisivos ou nos comícios de laivo circense. As palavras leva-as o vento; sabemo-lo e disso passamos o tempo a queixarmo-nos. Sobram as atitudes tomadas quando delas houve vez e necessidade para avaliarem-se caracteres pessoais e posturas políticas. E hoje não haverá saudosista do fascismo que não esteja a afiar o lápis. Também porque têm boa memória.
A onda de euforia que percorre a extrema-direita nacional não é a mera gratidão por ambicionados momentos de galhofa no café do bairro, tal como quando o nosso clube ganha um duelo com um arqui-rival. A profundeza emocional que a levará a fazer fila em Janeiro para votar CS é o miolo dos seus sorrisinhos de prazer antecipado. As velinhas acesas e o incensamento sebastianista. O espírito do vinte-e-quatro abrilista, ora em versão democraticamente eleita. Eu e tantos que afinal somos a razão da diferença, se tal lapa se nos colasse na lapela do casaco rapidamente a escovávamos como se de inestética e embaraçante caspa se tratasse. Cavaco Silva estende o seu silêncio também sobre esta mancha. Como se não houvesse apoios incómodos, se não houvesse votos que são ónus e não bónus. Silêncio que acuso de cúmplice pois há apoios que nunca se aceitam. Não se argumente que os grupelhos organizados ainda nada disseram oficialmente. Não é a mesma coisa que os burlescos esverdeados virem apoiar o camarada Jerónimo. Aqueles, os proto-fascistas, os de boa memória para quem fez bem aos seus, não elaboram previsíveis comunicados cúmplices que, a não acontecerem, fariam explodir de apoplexia senil os verdes balões de ar que adornam a visão pluralista do nosso mundo, versão janelas da rua Soeiro Pereira Gomes. Eles são mais discretos, mas estão presentes. Porque têm boa memória.
É preciso avivar a nossa, tal-qualmente. Recordar que o governo que atribuiu as pensões aos ex-pides foi o mesmo que a negou à viúva de Salgueiro Maia. Que os governos têm rosto e as mãos das assinaturas também o tiveram. Aníbal Cavaco e Silva.
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